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sábado, 24 de setembro de 2011

-true-

Você passa a vida tentando agradar as pessoas. Mostrar-lhes seu melhor, mostrar-lhes o que talvez você nem seja realmente. Mas você quer agradá-las. É patético, mas parece lógico: assim elas gostam de você. Até chegar o dia em que conheci você. Não fiz a menor questão de te agradar. Não queria, parecia divertido te irritar com o meu pior. E nos dávamos bem. Eu não precisei fingir, não precisei mentir, não precisei sorrir quando eu não queria sorrir. Apenas deixava tudo sair naturalmente. E você me pegou de surpresa ao me fazer descobrir que eu amava você. Tantas diferenças pareciam insignificantes ao maravilhoso sorriso que eu encontrava em você. Tanto tempo estivemos dançando em caminhos diferentes, distintos, tão próximos, que quase se cruzara por muitas e muitas vezes, até nos encontrarmos na mesma pista. E nela ficar. E nela continuar. E compartilhar a mesma dança, no mesmo ritmo, na mesma sintonia. Eu tentei evitar, admito; tentei negar, confesso. Tentei apagar essa chama queimando dentro de mim. Essa chama que me fez ultrapassar todos os limites que eu mesmo havia imposto. Mas sabia que era o seu olhar que eu queria encontrar todos os dias da minha vida.
A.F.P.

domingo, 2 de janeiro de 2011

-grudge-

Parado, olhando esse corredor vazio e solitário, sinto coisas que preferia não estar sentindo agora. Quanto rancor esse coração ainda é capaz de aguentar? Quantos chutes em minha própria consciência eu ainda sou capaz de dar? Eu queria me livrar de tudo isso, arrancar isso. Em momento algum lembro de ter desejado que as coisas tomassem esse rumo. Tudo o que aconteceu, tudo o que deveria ter ficado para trás, simplesmente insiste em permanecer cravado em mim como um espinho venenoso, cujo veneno se fortifica com cada lembrança. Esse corredor vazio me faz lembrar de quantas vezes gritei com o silêncio ou enchi a cara sozinho nas madrugadas frias, apenas para trocar a raiva que sentia por outras sensações, mesmo que fossem quimicamente criadas. Ou quantas vezes eu precisei de um ombro ou apenas uma mão para segurar. Mas eu nunca os tive. Quantas vezes quis que esse maldito telefone tocasse. Mas ele nunca tocou. Quantas vezes esperei palavras sinceras de conforto. Mas eu nunca as recebi. Quantas vezes eu daria tudo por um abraço forte, que dissesse tudo mesmo sem ouvir voz alguma dizendo algo. Mas eu nunca o ganhei. Quisera eu que esses olhos esquecessem o que viram; que esses ouvidos esquecessem o que ouviram; que esse coração esquecesse tudo o que passou.
A.F.P.

domingo, 7 de novembro de 2010

-miss-

Não considero a saudade um sentimento, uma fase ou um estado de espírito. A saudade é uma assassina sanguinária obcecada pela angústia de quem quer que chegue a pulsá-la em seu coração. Sim, ela é capaz de rasgar seu peito, atravessando-o com a dor mais intensa e imaginável. Capaz de segurar seu coração e apertá-lo com tanta força que você tem a impressão de estar sufocando e que este é o seu fim. Mas não, ela não seria tão bondosa com você, não acabaria com isso tão cedo. É um jogo de tortura psicológica interminável: uma roleta russa em que ela está em todas as câmaras, engatilhada, pronta para atirar. Traz flashbackes à sua cabeça, de tudo o que você mais ama, de todas as coisas que chegaram a lhe fazer sorrir. Meus joelhos sucumbem, não quero ser fraco, parecer fraco, eu não posso. Meu orgulho não permite. Meu orgulho não me permite parecer humano... Até que ponto vale a pena essa força eu não sei... Fecho os olhos, as pálpebras pesam demais.. Quando os abro novamente, não consigo ver muita coisa através de toda essa água... Minha boca abre para sussurrar algo, mas hesita e acaba fechando, tremendo... O vento espalha essas lágrimas pelo ar... E acabo chegando à realidade de que um adeus não foi o suficiente para matar o que ficou.
A.F.P.

domingo, 17 de outubro de 2010

-stuck-

Me sinto tão inibido. Inofensivo. É como se minha armadura estivesse trincada, prestes a abrir uma rachadura capaz de destruí-la. Tantos olhos vigiando cada movimento que eu tomo, ou pior, que eu pense em tomar. Eu começo a tremer, cerro meus punhos, trinco meus dentes. Fecho meus olhos, respiro profundamente em um segundo que parece durar uma eternidade. Fazer tudo desaparecer, eu preciso fazer, eu quero fazer, eu tento... É complicado o jeito que as coisas tomam seu rumo; como uma decisão muda todo um percurso. Uma escolha que pode mudar uma vida, para melhor ou pior, não tem como saber, não tem como prever onde o caminho que seus pés trilham vai levar. E por um instante, tudo o que mais quero, é ter a facilidade que uma criança tem de levar a vida sem se preocupar em pisar em falso, pois, segundos após chorar como se fosse o fim do mundo, estaria em pé novamente, sorrindo, correndo, pisando em falso novamente, e seguindo esse curso por anos... A facilidade que uma criança tem de criar um mundo onde só participa quem ela quer, da maneira que ela quer.. Mas não, me sinto preso em um inferno pessoal onde as bases de todas as minhas certezas estão tremendo... O mundo gira e quer que eu gire com ele também, pouco se importando com minha capacidade de acompanhá-lo ou não. Agarro com todas as minhas forças a mão do destino, mesmo que amanhã tudo dependa de mais uma decisão minha, de mais uma certeza, que, sempre será tão frágil.
A.F.P.

domingo, 3 de outubro de 2010

-pulse-

Uma única lágrima escorre pelo canto do olho fechado. Uma única lágrima carregando toda a dor que esteve exilada em um canto dentro de mim. Eu quero gritar. Eu quero correr. Mas não consigo mexer meus pés. Mal consigo controlar minha respiração. Isso rasga meu peito, suga minha voz, devora meu equilíbrio. Queria eu ter a força dos planetas, de passarem séculos a girar, sem parar uma única vez. Queria eu ter a persistência da Lua, de nunca desistir de estar ao lado da Terra, independente do quanto girem em direções opostas. Queria eu ter a capacidade de simplesmente viver, simplesmente e -unicamente- viver. Sem preocupar-me com o mundo ao redor. Afinal, qual a lógica de se importar? Ele não vai parar para se importar comigo ou com você. Aconteça o que acontecer, ele continua forte. Continua girando. Continua seu curso. Não foge do que foi estabelecido para ele. É assim que tem que ser. Com tudo. Ou deveria. Suponho eu, que de todas as descobertas que o homem é capaz de fazer, a única que continuará sempre sendo um mistério será sua própria existência, sua essência. De que é feito o homem? De que é feito o coração do homem? De que é feito o sangue que pulsa para dentro do coração do homem? De que são feitos os sentimentos que correm no sangue que pulsa para dentro do coração do homem? Quanto isso tudo vale? Vale algo? De que vale o homem sem os sentimentos que correm no sangue que pulsa para dentro de seu coração? ... Quanto vale ser um homem?
A.F.P.

terça-feira, 20 de julho de 2010

- life's book -

Olhando para trás, vejo tantas ruínas, tanto caos, tantas lágrimas perdidas no tempo... Vejo tudo o que eu sempre abominei, o que eu nunca quis para mim, o que eu nunca nem cogitei em ter ou ser... Vejo sorrisos, abraços, afagos... Vejo corações se apaixonando, corações se partindo, corações sendo partidos... Vejo sonhos, ilusões, esperanças, tolices... Vejo amores, amizades, brincadeiras, afinidades... Segredos, promessas, juras escritas em uma folha qualquer de caderno, que.. pouco tempo depois, foi arrancada como as demais folhas do final do caderno... somente promessas... não cumpridas... Vejo uma criança colorindo o seu mundo conforme ia conhecendo melhor as cores... Vejo uma criança caminhando a passos curtos, às vezes falsos, muitas vezes inocentes, ingênuos... e sempre, sinceros... Uma criança traçando seu caminho, arrancando espinhos, esquivando-se de pedras, levantando a cada queda, aprendendo com cada erro, crescendo com cada erro... Vejo pessoas, coisas, lugares... Vejo palavras, canções, melodias, notas lançadas ao ar, formando o ritmo de uma vida... Vejo rabiscos, riscos e contornos, formando o que hoje essa criança se tornou... Olhando para trás, vejo um mundo inteiro, acenando, um até logo, um adeus.. triste e... necessário.
A.F.P.

terça-feira, 29 de junho de 2010

-flames-

Eu sinto algo nascendo aqui dentro. Uma chama acendendo por baixo de todos esses escombros do meu coração. Uma luz, uma faísca que finalmente achou um novo oxigênio para manter-se acesa. Uma esperança, um amor incondicional pelo simples fato de sentir esse pulsar aqui dentro. Isso me aquece. Me faz sentir a vida sendo inspirada e infiltrada por cada terminal nervoso do meu corpo. Isso é bom. Pela primeira vez na vida, eu posso sentir o quão isso é bom. É estranho receber sorrisos sinceros... olhares singelos. É estranho sentir algo, que julgava já ter matado a tanto tempo. É estranho querer algo, que julgava já ter desistido a tanto tempo. É estranho. Uma manada de sentimentos me atropelando. Isso já chegou a me causar muito mal, tanto mal, mas agora não vejo por que resistir. Sorrio para mim mesmo, em um cruzar de pensamentos paralelos. Eu finalmente, estou aprendendo a brincar de viver, e deixar de ser sempre uma marionete do destino.
A.F.P.

domingo, 6 de junho de 2010

-now-

Mantenho meus olhos fechados. Inspiro lentamente. Sinto a brisa encostar em meu rosto, balançando o meu cabelo para lados aleatórios. Sorrio, é uma sensação boa. Prazerosa. Sentir a tranquilidade da vida lhe levar. Não mais sentir o peso do mundo lhe forçando os ombros, ou a dor das palavras sendo jogadas em sua direção. Apenas sentir o gosto da vida. Não mais ouvir despedidas ou presenciar partidas. Rir alto pelo simples fato de sentir que está presente quem você gosta e te faz bem. Não mais chorar pela lembrança de quem escolheu um caminho distante do seu, um caminho que você não foi convidado a fazer parte. Suspirar a felicidade que tomou conta da sua alma. Não mais chorar a raiva e o rancor acumulados no coração. Desejar que o tempo parasse somente para apreciação da perfeição do momento. Não mais desejar que tudo terminasse de uma vez por todas, e ainda dar uma força para que isso realmente acontecesse. Sentir a vida desenhando seu futuro. Não mais se lamentar pelo passado que não queria ficar no seu devido lugar. E finalmente abrir os olhos, e perceber que é real, que realmente está tudo ali. E não mais abrir os olhos e perceber que tudo não passou de um sonho.

A.F.P.

terça-feira, 6 de abril de 2010

-world-

Anseio fugir para esse mundo maravilhoso e lá ficar para sempre; não o ver através de lágrimas, não o desejar através das paredes de um coração dolorido e sim estar realmente nele. É uma sensação estranha. Diferente. Nova. Um lugar para recomeçar. Um lugar onde o passado parece não fazer tanta diferença. Um lugar para provar que eu nada preciso provar. Um lugar para lembrar. Um lugar para esquecer. Um lugar para lembrar que o mundo é muito mais do que um conjunto de paredes frias e sombrias. Um lugar para lembrar que a vida pode não ser cor-de-rosa, mas que também não se trata de um prisma de cores neutras. Um lugar para lembrar que o futuro está a menos de dois passos de distância. Um lugar para lembrar que ainda existem sorrisos sinceros e abraços ternos. Um lugar para me lembrar que devo sempre mirar a Lua, pois mesmo que eu erre, eu acertarei uma estrela. E ainda, um lugar para esquecer todas as cicatrizes, todas as quedas, todas as lágrimas evaporadas sobre um rosto cansado, todas as noites em claro causadas pelo medo de encontrar o passado dentre os sonhos. Um lugar para esquecer que o ontem realmente existiu. Um lugar para matar todos os fantasmas que costumavam a me assombrar. Um lugar para me fazer esquecer que cheguei a entregar o meu coração a você, e depois de matá-lo, o devolveu a mim. Um lugar para caçar a sangue-frio lembranças que ainda tenho de você.

A.F.P.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

-time-

De repente a vida passa em um piscar de olhos. Deixando para trás, tudo o que nos fez chegar até aqui, tudo o que nos tornou desse jeito. E quando fecho os olhos, minha vida toda passa em um filme, flashbackes do caminho percorrido até aqui. Às vezes, recebo isso com um sorriso bobo, um balanço da cabeça acompanhado por um afago das mãos. Outras vezes, as lágrimas ganham tanta força, a raiva e a tristeza percorrem por minhas veias, tornando qualquer coisa um alvo. Sim, algumas lágrimas suplicam por retorno, por algum déjà vu qualquer. Algumas lágrimas caem impacientemente por palavras ditas, promessas feitas, planos elaborados, que não valeram muito, algum tempo depois. Algumas lágrimas, estão carregadas de dor, de ódio, de desprezo. Esses flashbackes, às vezes me ajudam a seguir, mas às vezes, parecem fantasmas assombrando meu sono, trazendo de volta tudo aquilo que eu tentei por tanto tempo esquecer, isolar em algum canto intocável, enterrar, deixar morrer. O vento traz consigo aquelas palavras que atravessam meu corpo, abrindo novas feridas, aprofundando as já existentes. Essas cicatrizes estão demorando a sarar. O tempo não está do meu lado, o tempo não quer acompanhar o ritmo do meu coração.
A.F.P.